segunda-feira, 11 de maio de 2020

JORNALISTAS NA PANDEMIA: MORTE, VIOLÊNCIA, DEMISSÕES...

    Claro que nem se compara com outros profissionais "da linha de frente" no combate ao coronavírus. Entre os profissionais de saúde, já morreram quase 150 trabalhadores (enfermeiros e médicos) vítimas da covid-19. Mas o jornalista também está lá: mostrando hospitais, postos de saúde, aglomerações de pessoas. Também corre perigo. E que perigo. 
    Desde a chegada da doença ao país, já há o registro de 4 mortes de colegas da imprensa. Segundo o portal Agência Pública, são eles:
     Na sede do SBT do Rio de Janeiro, o editor de imagens José Augusto Nascimento faleceu no dia 13 de abril e o operador de câmera Robson Thiago Mesquita, na terça-feira seguinte (21). A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) estima que, dos 75 profissionais que trabalham na emissora no Rio, pelo menos metade está infectada. A Covid-19 vitimou também um dos jornalistas mais conhecidos do Maranhão, Roberto Fernandes, de 61 anos, funcionário da TV Mirante, afiliada da Rede Globo, no dia 22 de abril. Ele atuava como comentarista de política do jornal Bom dia Mirante e comandava, há duas décadas, o programa Ponto Final, da Rádio Mirante AM. No dia 30 de abril, o radialista Luiz Marcello de Menezes Bittencourt foi vítima da doença. Ele trabalhava havia 35 anos na Rádio USP, onde produzia o programa semanal Biblioteca Sonora, falando sobre livros e escritores. No dia 17 de março Bittencourt passou mal na rádio, sentindo cansaço e respiração pesada, e foi levado ao Hospital Universitário da própria Universidade de São Paulo. Quando seu quadro piorou, foi transferido para o Hospital das Clínicas, onde faleceu, aos 68 anos.
Infelizmente, desgraçadamente num país comandado por milicianos, a violência também faz parte do cotidiano dos repórteres: Os apoiadores do "seu Jair" agrediram e ameaçaram jornalistas em um ato realizado em frente ao Palácio do Planalto, no domingo (3), data que celebra o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Naquele dia, o fotojornalista Dida Sampaio, funcionário do Estadão, foi derrubado por um grupo de manifestantes por duas vezes, chutado pelas costas e socado no estômago. Marcos Pereira, motorista do jornal, também foi agredido no mesmo dia, assim como outros profissionais da imprensa, funcionários do jornal Folha de S.Paulo e do site Poder360. No dia anterior, o cinegrafista da TV Record Robson Willian da Silva já havia sido agredido por manifestantes bolsonaristas, em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba.
Acabou? Não! Também tem a parte dos patrões. Ainda de acordo com a Agência Pública:
No dia 24 de abril, mais de 20 profissionais foram demitidos das redações do Grupo RBS, maior conglomerado de mídia da região Sul do Brasil e responsável pela maior afiliada da Globo, a RBS TV. Em nota enviada pela assessoria de imprensa, o Grupo RBS disse “estar sofrendo com os impactos econômicos” da crise mundial de proporções inéditas gerada pela pandemia.
Em Minas Gerais, só o jornal O Tempo, o de maior tiragem e número de funcionários do estado, dispensou 26 jornalistas, no dia 13 de abril. Outras demissões ocorreram na Record TV, em São Paulo, no jornal O Povo, no Ceará, no portal Metrópoles, em Brasília, e no Grupo Bandeirantes. “Eu fui demitida e agora estou sem perspectiva nenhuma de arrumar emprego na área até uma retomada forte da economia. Além disso, nós perdemos o plano de saúde, que era ofertado pelo jornal, no momento de doença, e eu não tenho condições de bancar o plano. Eu moro de aluguel e ajudava a minha mãe. E agora, como vou pagar as contas? O cenário é desesperador”, desabafou Lígia*, uma das repórteres afastadas do O Tempo que estava trabalhando na cobertura do coronavírus e foi afetada pelas demissões. “A gente sabe que o jornal não está tão ruim assim das pernas, poderia ter tentado outras alternativas para preservar os seus funcionários, ao invés de tomar uma medida tão desumana logo no início da crise”, reivindicou Érick*, também na lista do “passaralho”.
O Tempo é do empresário e prefeito de Betim, município da região metropolitana de Belo Horizonte, Vittorio Medioli (PSDB-MG). O jornal faz parte da Sempre Editora, braço de comunicação do Grupo Sada, uma companhia de logística especializada em transportar veículos de montadoras rumo a concessionárias. O diretor executivo do jornal, Heron Guimarães, encaminhou à reportagem a mensagem enviada aos colaboradores no dia da demissão em massa. Nela, ele argumenta que a circulação caiu e diz que a publicidade “parece evaporar”. Além disso, segundo ele, os serviços ofertados pela Sempre Editora “foram abruptamente suspensos ou cancelados” e as montadoras estão paradas.
E, além de tudo isso, jornalista ainda tem de ouvir aquele jumento, lá em Brasília, mandando calar a boca.
* Nomes modificados para preservar a identidade das fontes.


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