quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

PAOLO ROSSI DEU SENTIDO À MÚSICA "VIVENDO E APRENDENDO A JOGAR"

   


    Na Copa do Mundo de 1982, o Brasil tinha uma seleção considerada muito forte. Até hoje muitos torcedores e jornalistas esportivos afirmam que foi o melhor selecionado nacional. Melhor até que o "escrete" de 1970, com Pelé, Tostão, Gerson, Rivelino e companhia. 
    Pode ser exagero, mas o time armado por Telê Santana encantou o mundo do futebol. E naquele 5 de julho de 1982, a seleção entrou no estádio Sarriá, na segunda fase do Mundial da Espanha, com:  Waldir Peres, Leandro, Oscar Luizinho e Júnior; Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Éder e Serginho Chulapa. Era considerado o melhor grupo em todas as posições em campo de todos os tempos do futebol brasileiro. Pra você ter uma ideia, Telê montou um esquema que "liberava" Junior (apesar de lateral esquerdo) de também armar jogadas no meio de campo. Aí você tinha a genialidade de Falcão, Zico e Sócrates, mais o passe refinado de Júnior. Ainda: Toninho Cerezo era um volante que sabia sair jogando e dava lançamentos primorosos.
    O Brasil era considerado, por muitos cronistas, como favorito daquela Copa. Isso até aparecer, na frente da nossa seleção, um rapaz de 1m77cm de altura, magro, de aparência "franzina" pela falta de "massa muscular". De longe ele parecia ainda mais frágil. Mas era inteligente, "liso de bola" e com um "faro de gol" como poucos, como dizia aquele velho radialista. 
    O curioso é que, na primeira fase da Copa, ele passou despercebido, não fez nenhum gol. A Itália se classificou aos trancos e barrancos, apenas no saldo de gols. Pra "piorar", caiu no chamado "grupo da morte" (que era formado por 3 seleções) junto com Brasil e Argentina...
    Mas... encarar a seleção "canarinho" deu novo ânimo a Paolo. E foi na "Tragédia do Sarriá" (como o jogo ficou conhecido para os brasileiros) que o homem resolveu "desembestar". Logo aos 8 minutos, usou a cabeça pra fazer 1 a 0. Mas a reação brasileira foi rápida: Sócrates empatou 4 minutos depois. Aos 25 minutos, novo vacilo da defesa verde e amarela e Paolo marcou mais um. Placar do primeiro tempo: 2 a 1.  Segundo tempo: Aos 23 minutos, Falcão deixou tudo igual. O empate classificava o Brasil. Porém... aos 30 minutos, escanteio para a Itália. A bola sobra para Paolo Rossi que, desmarcado, só mandou pra rede de Waldir Peres. Final: Brasil 2 x 3 Itália.
    Paolo Rossi foi o único jogador que, até hoje, conseguiu marcar 3 gols contra o Brasil numa Copa do Mundo.
    E naquele 1982, ninguém mais segurou o "Bambino D'Oro", como é chamado pelos seus compatriotas. Na semifinal, fez os 2 gols contra a Polônia que levaram a Itália para a decisão contra a Alemanha. Na grande final, abriu o caminho para o tri italiano em Mundiais. A seleção de Rossi venceu por 3 a 1. O caneco foi pra Roma.
    Na Espanha, ele se consagrou como o único jogador a ganhar os três principais prêmios de uma Copa: Ganhou o título; foi eleito o melhor jogador do torneio;e ainda o artilheiro. 
    Fora do futebol, Rossi se dedicou à produção de vinho e de azeite de oliva. Também foi comentarista de televisão e embaixador das Nações Unidas para profissionais do futebol contra a fome.
    O "Bambino D'Oro" fez os brasileiros entenderem melhor o sentido daquela música de Guilherme Arantes (eternizada por Elis Regina): "Vivendo e Aprendendo a Jogar". Nem sempre "só o nome ganha". É preciso ter cuidado com a soberba e aprender, todo dia, a respeitar os adversários.
    Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar.



Outra imagem para sempre: A capa do "Jornal da Tarde", um dia depois da "tragédia do Sarriá", com o garto chorando. O fotógrafo Reginaldo Manente ganhou o Prêmio Esso de Fotografia daquele ano.


Em 2013, José Carlos Rabello Júnior, o garoto da capa de 82, se encontrou com Rossi.