quarta-feira, 6 de outubro de 2021

FACEBOOK NÃO É O REINO DE POLIANA

     


    O Facebook (também chamado carinhosamente de "feice" e de "FB") não é gasosa de framboesa, nem doce de abóbora, nem geladinho, muito menos gelatina bicolor. É coisa muito mais pesada. É o que afirmou a ex-gerente de conteúdo do FB, Frances Haugen, em depoimento no Senado dos Estados Unidos.
    De acordo com a executiva, a plataforma começa o esforço pra manter a dependência justamente pelas crianças e adolescentes. Ela deu um exemplo: o feice escondeu pesquisas consideradas "perturbadoras" sobre como os adolescentes se sentiam pior depois de usar os serviços dessa rede social. Ou seja, com a personalidade ainda em formação, a piazada é bombardeada diariamente com um "mundo que não existe", onde todos são bonitos, saudáveis, tem as melhores amizades e as melhores condições de vida. Aí aquela garota/garoto se olha no espelho e se sente a pior das criaturas do universo. 
    A executiva também afirma que o Facebook é uma "ameaça à democracia". Para ela, é preciso haver uma regulamentação das redes sociais. Comparou essas plataformas à indústria do fumo  e à segurança no trânsito. Haugen lembrou que a vida melhorou com as restrições ao cigarro e quando passou a se exigir o uso do cinto de segurança.
    Sobre a queda do sinal do FB e do Instagram, a ex-gerente disse que isso não chegou a ser uma novidade porque, de acordo com ela, a plataforma investe mais em expansão do que em segurança do sistema.
    A direção do Facebook, obviamente, rechaçou qualquer crítica ao método de atuação na rede. 
    Uso político: A executiva falou em "ameaça à democracia". Não é de hoje que o feice se vê envolvido em questões políticas: Bora lembrar que em abril de 2018, o dono do negócio, Mark Zuckerberg, passou 5 horas sentadinho no Senado americano depondo, admitindo erros e respondendo à perguntas sobre o escândalo Cambridge Analytica.
    A Cambridge era uma consultoria política. A empresa pediu falência um mês depois do depoimento de Zuckerberg. Mas...o dono do FB só foi ao Senado porque a consultoria havia vazado dados de 87 milhões de pessoas que usavam a rede social.
    Na frente dos senadores, Mark falou bonito: "Proteger a nossa comunidade é mais importante do que maximizar nossos lucros". Mas, pelo o que disse a ex-gerente Frances Haugen, não é bem assim...
    Outra coisa, que não tem a ver com a declaração da ex-executiva ao Senado, mas que é grave: Esse negócio de algoritmos é uma loucura. Quando você abre o "feed de notícias", é ele - o algoritmo - que "determina" o que você vai ver primeiro. Uma certeza: Você verá mais postagens daquelas pessoas com as quais interage mais. Por isso que muita gente pergunta: "Eu tenho 5 mil amigos, mas só vejo o que uns 50 publicam...". É a máquina agindo, meu amigo!
    Ainda: Pesquisas, sugestões, "brincadeirinhas inocentes" que a rede social oferece pra você participar - e incentivar seus amigos a "entrarem no jogo" - também não são tão inocentes assim. Tudo isso ajuda a moldar o perfil dos "usuários"... Aliás, nunca a definição "usuário" foi tão bem empregada...
    O filme é de 2010 - e já rodou pelos cinemas, Tvs, Tvs a cabo e streamings. Quem já viu, vale rever. Quem não viu, vale assistir: "A Rede Social" conta a história de como surgiu o Facebook. 
    A produção foi estrelada por Jesse Eisenberg (no papel de Mark Zuckerberg) e dirigido por David Fincher.
    A sinopse: Em outubro de 2003, Mark Zuckerberg, estudante de Harvard, senta ao computador e começa a trabalhar em uma nova ideia. Considerado estudante brilhante, desenvolve um projeto que viraria a ser uma rede social mundial. 
    Dezoito anos depois, o Facebook tem quase 2,9 bilhões de contas ativas. São 130 milhões no Brasil. Ou seja, na média, a cada dois brasileiros, um tem o feice.

 * A foto que ilustra esse texto é de um dos cartazes de lançamento do filme "A Rede Social" nos EUA.