segunda-feira, 27 de junho de 2022

"SEBERG": A RECEITA DO FBI PARA DESTRUIR REPUTAÇÕES

   


     Não espere do filme uma tese sobre o maio de 1968 na França nem um estudo aprofundado sobre os "Panteras Negras" nos Estados Unidos. De forma pausterizada, "Seberg Contra Todos" ("Seberg", EUA, 2019) se concentra mais num período da vida da personagem principal. É a história real da atriz americana Jean Seberg (1938 - 1979) que fez mais sucesso no cinema francês sendo considerada uma das musas da "Nouvelle Vague" (o cinema novo do país). Ela fez, por exemplo, "O Acossado", de Godard, em 1960.
    Outro papel  importante dela foi em "Santa Joana ", de Otto Preminger, no qual fez Joana D'Arc, vencendo mais de 8 mil (!) candidatas à personagem.  Na produção, a atriz teve queimaduras (que deixaram cicatrizes) na cena da fogueira.
    De volta à "Seberg": Kristen Stewart interpreta Jean Seberg. Em 1968, ao regressar aos Estados Unidos, Seberg que além de atriz era ativista política, se envolve com a causa dos "Panteras Negras" (na luta contra o racismo) e mais: Casada com um diretor e roteirista francês, acaba tendo um caso com Hakim Jamal (Anthony Mackie), líder dos "Panteras". 
    Endinheirada, Seberg ajuda a financiar as ações dos manifestantes, o que chama a atenção dos agentes do FBI que mantinham um programa para vigiar os passos dos "Panteras". Ao verem a participação da atriz no movimento, começam uma campanha de difamação da moça. 
    Distribuem para os jornais uma série de "fake news" (olha aí, meu povo!) para destruir a reputação da artista. 
    O filme é bem "romanceado" com pitadas políticas. Mas, como disse, bem centrado em Seberg. Teve crítico até que "reclamou" de Kristen ter aparecido em várias cenas com vestidos curtos e transparências que "mostravam demais"...Mas essa é a ideia do roteiro: Pegando um "gancho" de política, procurou revelar quem era essa atriz loira, famosa na Europa, e rica que se envolveu no movimento negro americano...
    E como história real não tem spoiler, lá vai:  Os agentes tanto atazanaram a vida da moça que ela voltou para a França, sofreu com depressão e tentou o suicídio 9 (!) vezes. Em 1979, o corpo dela foi encontrado enrolado num cobertor no banco de trás de um carro bem perto do apartamento onde morava em Paris. Legistas disseram que ela já estava morta há uns 10 dias, pois já estava em decomposição. Como é que ninguém viu antes??? O laudo oficial indicou suicídio com drogas e álcool.
    Mas a tragédia  não parou por aí: O marido de Seberg denunciou que ela foi morta pelo FBI. Alguns dias depois, ele se suicidou. 
    Peraí: Atriz loira, famosa, com casos extraconjugais, acusada de participação em atividades contra o governo americano. Morre misteriosamente e o laudo é overdose por drogas. Mas.. o FBI é "acusado" de matá-la. Parece que eu já vi essa história em 1962...
    Sobre a participação de Kristen Stewart, o papel foi mais um tijolinho na construção da carreira da atriz. Não tem o charme, a beleza e o talento da Jean Seberg original. Mas fez o possível. Mesmo com suas (ainda) limitações, não decepcionou.

                                                   

A verdadeira Jean Seberg: Muito parecida com Charlize Theron


    * Filme disponível na Netflix.