sábado, 27 de agosto de 2022

CURITIBA GRANDE E SENZALA E O PRECONCEITO QUE ELA HABITA

 


Curitiba é famosa pelo "ar europeu": Imigrantes alemães, italianos e poloneses criaram aquele pensamento nacional de que "Berlim, Roma ou Varsóvia é aqui". A própria visita de João Paulo II (o "Papa polaco") em 1980 ajudou nesse imaginário. 

    Dito isso, um estudo da mestre em geografia pela Universidade Federal do Paraná, Glaucia Pereira, "A racionalização do espaço urbano da cidade de Curitiba", destaca que 24% da população da cidade são negros e negras. Quase um quarto do total de habitantes. É a capital do sul do país com a maior quantidade de moradores negros. A pesquisadora também destaca que a cidade é marcada pela desigualdade racial.
    É um trabalho histórico e científico de quem entende do assunto. Não é opinião daquele tipo de político que insiste em dizer que "Curitiba não tem preconceito". Nem afirmação dos ignorantões de rede social que falam existir "só mimimi" de quem reclama de preconceito.
    Quem sofre (literalmente) na pele sabe o quanto é terrível o preconceito, o racismo estrutural.  O vereador cassado Renato Freitas (PT) que o diga. Negro, foi afastado do cargo porque "ousou" protestar contra o racismo dentro de uma igreja construída por escravos... negros!
    Agora surge um novo caso tão terrível quanto: O genro de um amigo foi abordado por agentes de segurança na noite dessa sexta-feira, 26, numa rua ao parar o carro pra consultar o GPS. O rapaz abordado é negro. Ele estava sozinho.  Os "hómi da lei" (que lei?) deram uma "geral" nele,  no carro, e até abriram o presente que levava para a mulher que fazia aniversário. Procuravam  o quê? Não falaram. Só pararam ao ver a identidade funcional do rapaz. 
    Nessas situações nunca se explica o motivo da abordagem. O que chamou a atenção dos agentes? A pele que ele habita?
    Importante: Está mais do que na hora de haver uma reciclagem no treinamento do pessoal que trabalha com Segurança. Isso em todo o país. A gente sabe bem no que se transformou o Brasil a partir de janeiro de 2019. Mas, se tudo der certo, o país voltará a viver com um pouco mais de paz a partir de janeiro de 2023.
    Outra coisa: Também é urgente que candidatos a todos os cargos em 2022 (principalmente à Presidência) coloquem na pauta de discussão o combate ao racismo.
    O rapaz abordado, obvio, está revoltadíssimo. Ainda bem que, apesar da violência que sofreu, manteve a calma.
    E é aquela história: Quando a gente é abordado por bandidos, se acontecer violência, é até "esperada", infelizmente. Mas quando a violência parte de quem deveria "em tese" defender a população, essa dói mais.

OBS: A imagem que ilustra esse texto é considerado o registro visual mais antigo de Curitiba. Seria de autoria de Jean Baptiste Debret e mostra a cidade vista do Alto São Francisco, perto do que é hoje a Praça Garibaldi. Ao fundo aparece a Serra do Mar. O operário negro, escravo, trabalha na construção de uma igreja que nunca chegou a ser concluída: a Igreja de São Francisco de Paula.
O blog Nanu (nanu.blog.br) traz outras ilustrações de Debret e mais informações.