Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) foi um ótimo poeta e um excelente cronista. É considerado por muitos críticos como o poeta brasileiro mais influente do século vinte.
Além de amar a literatura - e fazer dela o seu ganha pão - também era apaixonado pelo cinema. Mineiro, assistiu os primeiros (e vários outros...) filmes no Cine Odeon em Belo Horizonte.
Conheceu a chamada "época de ouro" de Hollywood. Começou a frequentar as salas de exibição ainda quando o cinema era mudo. Viveu a passagem para os filmes sonoros.
O coração do mineirinho de Itabira tinha espaço para muitas estrelas: Joan Crawford, Bette Davis, Ingrid Bergman, Romy Schneider, entre outras menos votadas. Mas quem merecia o lugar maior, a cobertura com terraço no coração do poeta era... Greta Garbo (1905-1990). Nascida na Suécia, de cabelos castanhos claros, um metro e setenta centímetros de altura e com olhos na cor azul-violeta. Olhos com essa cor são raríssimos. Que eu me lembre, só outra atriz tinha um olhar assim: Elizabeth Taylor.
Drummond não se considerava um "crítico" nem cinéfilo. Mas gostava da definição de cinemeiro. Se considerava um. Era tão apaixonado pela sueca que chegou a criar a "Sociedade dos Loucos Apaixonados por Greta Garbo". A atração foi tão grande que escreveu uma história inventado uma visita da atriz à Belo Horizonte. O texto se chama "Garbo: Novidades" e foi publicado em 1955 no "Correio da Manhã", e republicado no livro "O Cinema de Perto", dedicado a Drummond. A criatividade do escritor conta que ele e pessoas conhecidas ciceronearam a estrela na capital mineira, e que ela, na véspera da partida, os levou para jantar no Grande Hotel.
Só mesmo alguém com a imaginação de um grande escritor para pensar em algo assim. Garbo, na vida real, ficou famosa, também, por abandonar a... fama! Com apenas 36 anos - e com quase 30 filmes no currículo - ela desistiu da carreira.
De personalidade muito forte, brigou com chefões dos estúdios (chegou a fazer greve!) para conseguir papéis e salários melhores. O "Hollywood way of line" a cansou. Foi indicada três vezes ao Oscar, mas só ganhou um pelo conjunto da obra na década de 1950. Recebeu vários convites para voltar a atuar, mas negou todos.
Carlos Drummond de Andrade se apaixonou pela beleza, pela competência artística e, também, pela persona vigorosa da atriz. Perfeitamente compreensível e livre de culpa.
Mas o rapaz de Itabira sabia os limites e respeitava o desejo de Greta Garbo de viver de forma quase reclusa, recolhida em sua existência particular. Ela teve amores, mas nunca casou. Não teve filhos.
Não é por acaso que uma frase que ela disse no filme "Grande Hotel" (1933) virou o bordão da atriz que se afastou dos holofotes:
"I want to be alone" - "Eu quero ficar sozinha".
Ela queria viver em paz. Drummond respeitou.