Luiz Geraldo Mazza completa 88 anos em fevereiro. O "presente" que ganhou? A demissão da rádio onde trabalhava. Aquela conhecida pelo slogan "A rádio que TROCA notícia". Pelo o que eu soube, pelo o que se apurou, é para "contenção de gastos".
Que "gasto" pode dar um homem da competência jornalística, do conhecimento de política (MUITO da paranaense), do extraordinário conhecimento de história - e da fantástica memória que ele tem? Quem mandou Mazza embora deveria - na verdade - agradecer todo dia pelo fato do Mazza ir trabalhar para ele.
A credibilidade do Mazza não tem preço. Empresário inteligente, executivo em sã consciência, não abrem mão dos serviços ( e que serviços!) prestados pelo jornalista. Mas para a "contabilidade" das empresas de comunicação existe, sim, um "preço". Competência passou a ser medida pelo salário. Mas veja que idiotice: Quanto MENOS o cidadão ganha, mais ele é "competente". Ou seja, se o profissional ganha MAIS (o que seria "mais"?!) ele deixa de ser um empregado "interessante". É preciso nivelar por baixo. Inclua-se, aí, a qualidade do trabalho entregue.
"Firmas de comunicação" passaram a ser "bancos", onde, de tempos em tempos, os "maiores salários" são "dispensados" - "encorajados" a partir "em busca de novos desafios".
Infelizmente Luiz Geraldo Mazza faz parte de um time que vem sendo desmanchado nas Redações: dos jornalistas competentes, mais experientes. De uns tempos pra cá, é cruel vermos notícias de demissões nessa área.
Quem é bom e "ganha muito" vai indo embora.
Sobre a atuação profissional do Mazza tem um fato raro e importante: Ele participou de uma GREVE de jornalistas nos anos 60. Isso mesmo! Jornalistas já fizeram greve no Paraná!!! Não fazem mais porque as novas gerações acham que essa profissão é "essencial" e que não permite greve.
Veja o relato de Luiz Geraldo Mazza ao também jornalista José Wille para o documento "Memória Paranaense". É um trecho de uma longa entrevista.
José Wille – E a greve dos jornalistas, você também estava lá, na liderança do movimento?
Luiz Geraldo Mazza – Não era bem liderança. É que havia uma acomodação no começo da década de 60 e nós discutíamos uma questão econômica, que também era a questão econômica dos gráficos. A gente ia partir para uma manifestação unitária. E, em uma assembleia, na sede do sindicato dos bancários, percebi que existia uma movimentação que confiava na vinda do ministro do Trabalho, que já era o Amaury Silva, grande figura por sinal. E o cara era candidato a governador… eu achei aquilo um absurdo, não tinha nada a ver. Eu, hoje, nessas condições, estaria com esse pessoal que queria esperar o ministro. Mas eu achei aquilo uma manipulação indevida de uma causa e fiz um discurso para os operários. Não para os jornalistas; fiz para os operários que estavam lá. Porque aqueles eram os verdadeiros operários, embora operários intelectuais, que eram os gráficos naquela época da imprensa a chumbo, imprensa a quente. Fiz o discurso, discordando daquele tipo de situação que queriam criar. Imediatamente, recebi apoio, houve unanimidade, propus a greve. E nós tivemos que fazer a greve. Quer dizer, na realidade eu propus uma coisa dificílima de encadear, e nós a fizemos com sucesso. Foi a única greve no Brasil que não saiu nos jornais, porque todos os outros fazem a greve e dão um jeito de imprimir os jornais. Vêm release de governo, dois, três funcionários, e dão um jeito. Então, fizemos a greve e foi um sucesso. O Nelson Comel, essa figura impressionante da “Tribuna do Paraná”, era o homem que cuidava da comida; ele e a mulher dele serviam a nossa base alimentar nos nossos piquetes grevistas. E foi um sucesso! Só que o “Diário do Paraná” conseguiu furar a greve e aí virou um problema de Guerra Fria. O próprio dono do “Diário do Paraná”, senhor Adherbal Stresser, colocou a questão em termos ideológicos, que era um abuso, que o jornal era a última reserva da democracia e tal. Nós, como tínhamos fechado todos os jornais e soubemos que havia o furo dentro do “Diário do Paraná”, cercamos o jornal e não deixamos sair o que eles já tinham conseguido imprimir. Não deixamos sair, depois de termos cometido algumas violências, como sequestrar o impressor do jornal, que é uma pessoa-chave, levando-o para tomar uma cachaça e levá-lo com a gente para outros lugares. Houve essa manifestação no “Diário do Paraná – nós paramos e ficamos em frente ao jornal, embaixo das rodas imensas de um carro de bombeiros. Foi criada uma situação complicadíssima. Eu lembro que vi o Adherbal Fortes completamente recurvado junto com os gráficos embaixo desse enorme caminhão dos bombeiros para imobilizar a polícia. Nessa hora, vieram com uma proposta que, para mim, foi ótima pelo meu temperamento: ir a uma rádio, colocar uma rádio no ar. Era a Rádio Independência, o Repórter Petrobras, um companheiro nosso da rádio fez isso. Isso aí é perfeitamente enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Contei até cinco, botaram a rádio no ar e eu entrei assim “Milhares de pessoas assistem estarrecidas à mais brutal manifestação de forças.” Isso não tem nada a ver com jornalismo, mas provocou um tumulto e, dentro de poucos minutos, a rua fechou e a polícia ficou inibida, ficou impotente para agir. Aí os políticos chegaram, chegaram os deputados, o próprio chefe de polícia – Ítalo Conti – foi lá e tudo foi se moderando, moderando, e nós saímos vitoriosos. Outro detalhe deste evento: o Abdo Aref Kudri, que hoje é o presidente do Sindicato das Empresas e da Associação de Jornais e Revistas, tinha uma disputa com o Adherbal Stresser, e vivia cutucando-o, não gostava dele mesmo. E o Abdo Aref Kudri ofereceu o jornal dele, o “Diário Popular”, para ser o jornal da greve. E nós imprimimos, dentro do “Diário Popular”, as três edições que saíram do jornal da greve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.