sábado, 8 de fevereiro de 2020

SANDER X BIAL: "NÃO É PORQUE TRABALHA NA GLOBO QUE É PRECISO SE TRANSFORMAR NUM LACAIO DO SISTEMA"

 

    Os jornalistas Roberto Sander e Pedro Bial foram colegas na TV Globo. Chegaram a dizer que "um gostava do outro de graça". Mas isso mudou. Com a crítica feroz de Bial à cineasta Petra Costa e ao filme que ela dirigiu. "Democracia em Vertigem", o apresentador e ex-animador do BBB, Bial, virou "persona no grata" para Sander.
    Veja no texto de Roberto Sander:
   
    "Quem te viu, quem te vê, Pedro Bial.
   Não nos vemos pelo menos há uns 20 anos. Mas lá pelo início dos anos 1990, chegamos a tomar chope juntos no Calamares, ao lado da entrada principal da TV Globo, no Jardim Botânico.
   Eu era repórter do esporte e ele já uma estrela do jornalismo, correspondente internacional. Me lembro que no lançamento do seu livro sobre a queda do muro de Berlim, escreveu na dedicatória que "gostava de mim de graça".
    A recíproca era verdadeira. Tínhamos ideias e ideais parecidos. Admirava-o pelo inegável talento e texto impecável.
    O tempo passou e cada um seguiu seu caminho. Quando o vi no Big Brother, estranhei: "Como um cara com tantas possibilidades para fazer a diferença empresta seu talento a algo tão bizarro?", pensei.

  Depois soube que fazia parte do Instituto Millenium, que reúne a nata dos liberais mais caretas e retrógrados do país. Estranhei de novo. As aparições como garoto propaganda do Bradesco, porém, não chegaram a me surpreender. Quem sou eu pra censurar?
Afinal, antes de trabalhar como jornalista, havia feito comerciais pra Brahma, Banco Nacional, Ford, entre outras marcas do capitalismo mais capitalista. Nada contra. Quem não precisa de dinheiro?

   Mas agora quando leio suas declarações sobre "Democracia em Vertigem" e o modo como se refere a Petra Costa, percebo que nada foi por acaso.
Aquele jovem repórter, poeta do grupo "Os Camaleões", que declamava versos de pura rebeldia nos bares da Zona Sul carioca, se transformou numa vaga lembrança.

   Ninguém é obrigado a ser rebelde e contestador a vida inteira, mas a profissão de jornalista exige um mínimo de compostura, de compromisso com a verdade. Não é porque se trabalha pra TV Globo que é preciso se tornar um lacaio do sistema. Aí estão Chico Pinheiro e Caco Barcellos para provar isso.
   Questionar de modo desrespeitoso a narrativa de Petra, que desnudou com incrível sensibilidade a trama canalha e desonesta que derrubou um governo legitimamente eleito, foi demais pra mim.
   Revela que seus cabelos brancos nada lhe ensinaram.
Pelo contrário, o tornaram um jornalista menor, sem identidade, compromissado apenas com o poder que lhe deu fama e dinheiro. Uma lástima."

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