quarta-feira, 13 de maio de 2020

COM FALHA, "JN" MOSTRA QUE TELEJORNALISMO PAROU NO SÉCULO PASSADO

    

    Não vi. Não assisto. Fiquei sabendo. Vi a gravação para "ver o que aconteceu".  A "escalada" do Jornal Nacional teve um grave problema técnico/de edição. Tiveram de cortar direto pra locutora. Com certeza muita gente não dormiu buscando saber o que aconteceu. Na época do Cid Moreira, quando esse tipo de falha acontecia, a emissora "cunhou" um bordão que ficou famoso. O apresentador dizia: "Desculpe a nossa falha técnica". Isso causava indignação nacional no setor de engenharia porque nem sempre a falha era técnica. Poderia ser de quem editou. Ou poderia ser de transmissão, de um equipamento de fora da TV, de um satélite, por exemplo.
    Dito isso, vamos ao que realmente interessa: Voltemos aos anos 70. A dupla Walter Clark/Boni "criou a televisão moderna", ou seja, o chamado "Padrão Globo de Qualidade" (PGQ para os íntimos). Independentemente das posições políticas da família Marinho, os dois colocaram isso como regra número 1: Uma televisão só faria sucesso no Brasil se investisse pesado na qualidade de programação. Aí se entenda equipamentos de última geração, programas bem produzidos e bem editados e respeito ao telespectador na "formatação" da grade de programação. Boni sempre disse que programa tem que ter dia certo e hora certa para começar. Parece óbvio, mas não é tão simples: O cidadão precisa saber que, se ele ligar o aparelho de televisão em determinado horário, vai ver tal programa. Isso se chama respeito, mas também tem outro conceito: criar o hábito na pessoa de assistir a emissora. Algumas tentaram copiar. Não conseguiram. Não basta dinheiro. Precisa talento. Nesse ramo, também dá pra dizer que "dinheiro não é tudo"...
    Agora falemos sobre o telejornalismo. Boni (sempre ele!) junto com o jornalista Armando Nogueira (melhor diretor de Jornalismo que a Globo já teve..."tanto no pessoal quanto no profissional", como diria o Fausto...) criaram o Jornal Nacional. "JN" pra quem é de casa. Esse surgiu antes da chegada do Padrão Globo de Qualidade: 1º de setembro de 1969. Mas veio ao mundo com uma nobre missão: unir o Brasil com telejornalismo ainda numa época em que fazer um telefonema interurbano nem sempre era fácil.
    Poisintão: De lá pra cá, apesar de mudanças estéticas, técnicas, editoriais e operacionais, ao longo do tempo, o JN conserva, na "essência", o mesmo jeitão: Escalada+Locutores apresentam notícias+Repórteres entram ao vivo pra "atualizar" alguma informação. Com raríssimas exceções, quando os locutores leem algum editoral escrito pela direção de jornalismo, é um jornal sem opinião. Não existe comentário sobre nada. Só aquelas interjeições do tipo "que coisa"...."é lamentável"...."estamos cansados"... ou seja falas totalmente dispensáveis. Tem, também, aquela "mexida de sobrancelha"... Falta comentarista. Se o problema é "tempo", poderia ter alguém do perfil do Joelmir Betting (lembra? Conhece?) que resumia em 30 segundos (com muita informação, criatividade e, se fosse o caso, ironia e/ou bom humor) um decreto de lei de muitas páginas.
    O referido telejornal parece, ainda, que "vive numa bolha": Não estamos mais nas décadas de 80/90..... as pessoas se informam pela internet, pelos portais de notícias, ainda de manhã... à tarde... Quando chega a noite, 90% (pelo menos) do que a televisão apresenta como "notícia nova", já é "coisa velha". 
    O telejornalismo precisa se reinventar. Um caminho? Dar as notícias mas de forma comentada, explicada. Repórter seria para as chamadas "entradas ao vivo". Ou, para as sempre necessárias, "reportagens especiais". Mas não pra ficar falando 2 ou 3 minutos sobre uma nova regra do governo. Isso seria dito (e comentado) no estúdio.
    Por fim, mas falando do "começo" de cada edição de telejornal, esse negócio de "escalada" é coisa do passado.  Telejornal deve começar "quente", com a principal notícia do dia. Assim se ganha tempo pra finalizar a edição e não se perde um tempo precioso de quem está envolvido no "fechamento" das notícias.
    Escalada é da época em que o JN e outros queriam "copiar" a primeira página dos jornais impressos fazendo manchetes. São veículos diferentes. Isso a dupla Walter Ckark/Boni já mostrou lá no passado...