Mas ao contrário dos Estados Unidos onde a figura do "âncora" ( o profissional que apresenta e comenta e, eventualmente, também faz reportagens) existe há muitos anos, no Brasil se criou uma figura curiosa: o jornalista dá as notícias mas não pode comentá-las. Temos duas exceções conhecidas do grande público: Boris Casoy - que popularizou os bordões "Isto é uma vergonha!" e "é preciso passar o Brasil a limpo!" - e Ricardo Boechat, que estava no Jornal da BAND, quando morreu. Casoy, aos 79 anos, ainda está no mercado.
Nos 70 anos da televisão brasileira, o que chama a atenção é que o apresentador do telejornal de maior audiência do país "não pode" dar opinião. Talvez não possa. Talvez não tenha informação suficiente de bastidores pra dizer o que pensa. Ou as duas alternativas. Editorial escrito pela direção da empresa não vale. Também não vale dizer apenas "isso é um absurdo....isso não pode"; ou ficar fazendo careta e/ou mexendo as sobrancelhas.
Com 7 décadas de vida (não são 7 dias...) da televisão, quem assiste a telejornal precisa da notícia "completa": A informação e mais uma análise pra entender o que se passa. Tem uma "máxima" no meio jornalístico que diz : "A gente dá a informação e quem tira as conclusões é o telespectador". Isso tem duas definições: "Empurrar para o público um abacaxi que eu não quero descascar" (ou seja, não "colocar a cara à tapa" dando opinião...) e "Valorizar demais a capacidade do povão de entender uma notícia" (como se as pessoas dominassem todos os assuntos e tivessem condições de "tirar conclusões" sobre um fato).
De volta ao jornal de maior audiência, se o apresentador não tem autorização ou competência pra comentar, seria preciso um comentarista bem informado pra analisar os fatos do dia. Caso contrário, o apresentador da década de 2020 também pode ser "ironizado" assim como era o apresentador da década de 70.
É difícil aceitar um jornalista sem opinião. Que não pensa. Que apenas lê umas laudas.