sexta-feira, 16 de outubro de 2020

"QUEM BATE À MINHA PORTA?" : UMA CÂMERA NA MÃO, UMA IDEIA NA CABEÇA E POUCO DINHEIRO NO BOLSO!

    

Keitel em ação: contratado através de um anúncio


    Pra quem pensa que cinema americano é só o glamour de Hollywood, está redondamente enganado. Muita gente começa quase do nada,  no "filminho de formatura da Faculdade". Martin Scorsese, que já dirigiu filmaços como "Taxi Driver", "Os Bons Companheiros", "Casino", "Touro Indomável", "Os Infiltrados" e "Gangues de New York", também teve sua estreia com uma produção beeem pequena: "Quem Bate à Minha Porta?"(de 1967) o trabalho de formatura dele na Universidade de Cinema de Nova York.
    O orçamento para a produção era minúsculo. Tanto é que o ator principal, Harvey Keitel, foi contratado através de anúncio de jornal e revista. Ele trabalhou, literalmente, por "amor à arte". A atriz, Zina Bethune, fazia telenovelas e recebeu um cachê. Resumo resumido do enredo: J.R. (Keitel) é o próprio "boy de vila", nesse caso de um bairro italiano de Nova York. Desempregado, já adulto, se reúne com a "gangue" dele pra tomar umas cachaças e fazer farras. Um belo dia ele conhece uma bela jovem (Zina) e se apaixona pela garota. Namoram... mas ele prefere não fazer sexo com ela ("opa! O que que acontece?" pergunta você). Fácil de responder: Como ele vinha de uma família extremamente religiosa e conservadora, o rapazinho queria dar uma furunfada só na Lua de Mel. Mas...aí ele descobre algo na vida da menina que vai dar uma chacoalhada na história. Mas aí já é "spoiler". Deixa quieto...
    O filme já estava pronto há 4 anos e não tinha expectativa de lançamento em circuito comercial. Até que um produtor viu potencial e decidiu investir. Mas exigiu uma condição. Ele disse, literalmente, que queria "carne e pimenta" na película. Ou seja, que rolassem algumas cenas de sexo. O que eles fizeram? Mandaram Keitel pra Holanda onde ele "deitou ao leito" com algumas moças de "vida fácil" (não tão fácil assim, vamos falar a verdade...). As cenas (bem ousadas) do personagem transando com algumas prostitutas foram "enxertadas" no meio do filme. Detalhe: Como todo o restante já estava pronto há quase meia década, nessas cenas de "vuco-vuco", Keitel já aparece mais velho. Ou seja, fica "novo-mais velho-novo"...
    Outra curiosidade: Com pouco dinheiro, o jeito era fazer uma filmagem LITERALMENTE doméstica. Eles usaram como cenários internos a casa da avó de Scorsese e um corredor da casa do diretor assistente. Um bar era apenas uma mesa junto à parede e a porta de um banheiro. Tudo apertado.
    Mas...desde aquele primeiro filme, Martin Scorsese já mostrou ao que veio. Tanto é que o produtor viu e resolver financiar o projeto para os cinemas. Sem grana, mas com uma câmera  na mão e uma ideia fervilhando na cabeça, o "diretor grumete" já usava e abusava de "travellings", muita "câmera nervosa" na mão, tomadas fora do 3x4 padrão quando precisava de um close dos artistas.
    Scorsese - um dos melhores diretores da "sétima arte" - sinônimo de qualidade, começou a vida de uma maneira bem modesta. Um dia ele disse:
    "Eu fui um menino asmático levado a acreditar que não conseguiria ser muita coisa na vida".
    Martin Scorsese é o diretor vivo com mais indicações para o Oscar. Já recebeu 10.  Ele tem um Oscar de Melhor Diretor por "Os Infiltrados", de 2007.