terça-feira, 10 de novembro de 2020

"O CASO RICHARD JEWELL": UMA AULA DE COMO NÃO FAZER JORNALISMO....

   


Rockwell, Bates e Hauser: "bronca"com a Justiça e com a imprensa

  
    O cinema já nos brindou com bons filmes que tratam do Jornalismo. Os meus preferidos são "A Montanha dos 7 Abutres" (EUA, 1951) dirigido por Billy Wilder e estrelado por Kirk Douglas. A produção é uma crítica à transformação do jornalismo em show business. Outro é "Todos Os Homens do Presidente" (EUA, 1976) com direção de Alan J. Pakula, com Dustin Hoffman e Robert Redford nos papéis principais. É a história do escândalo Watergate que resultou na queda do presidente Richard Nixon.
    O último a tratar de Jornalismo é o veteraníssimo Clint Eastwood que acabou se metendo numa "enrascada". O diretor, de 89 anos, fez,  no ano passado, "O Caso Richard Jewell" que conta a história real de um segurança, Richard Jewell, que "de herói" passou a principal suspeito de um atentado à bomba na Olimpíada de 1996 em Atlanta. O que aconteceu: ao perceber o explosivo que estava debaixo de um banco de jardim numa praça, durante um show, ele saiu gritando que nem um louco pra tentar salvar as pessoas. Não deu tempo...
    Mas você me pergunta: "Por que o velho Clint se meteu numa enrascada?" Respondo: Foi por causa do tratamento dado à repórter Kathy Scruggs. Em tempos de "Me Too", de combate ao machismo em todos os setores da sociedade, o diretor foi acusado de "machista" por retratar a jornalista como uma pessoa capaz de trocar sexo por uma informação importante. Clint não se manifestou. Mas a Warner Bros. afirmou que o roteiro foi baseado em "fontes bem confiáveis"
    Fato é que Kathy (vivida por Olivia Wilde) literalmente reza pra descobrir histórias antes dos colegas e garantir a manchete do dia. E "não mede esforços" pra isso... Richard Jewell é interpretado por Paul Walter Hauser, e o advogado de Jewell quem faz é Sam Rockwell. Ainda tem Kathy Bates como a mãe do segurança.
    Scruggs numa dessas noitadas de muita libido consegue uma informação de um representante do FBI: Os agentes estavam, sim, investigando o segurança. Eles se basearam no depoimento do reitor de uma universidade onde Jewell trabalhou e se comportava de maneira contida, mas querendo "se transformar em celebridade", de acordo com o reitor. Ou seja, puro chute.
    A investigação ganhou a primeira página do jornal onde a repórter trabalhava e aí toda a imprensa de Atlanta foi atrás. E naquele modo "não tenho certeza, mas se a concorrência tá dando, eu é que não vou ficar pra trás". Aí, o que era suspeita virou "fato consumado" e a jornalistarada não deu mais paz ao coitado do moço que só queria cumprir com as obrigações dele e "servir ao país".
    E o que aconteceu com Kathy Scruggs na vida real? O filme não mostra isso, mas...ela morreu de overdose em 2001. Dizem, os jornais americanos, que ela "jamais se recuperou" da série de reportagens que fez e que transformou a vida de Jewell num inferno.
    Parentes, amigos e colegas de profissão, afirmam que Eastwood "distorceu" a verdade ao dar esse perfil à moça: esse, digamos, comportamento malicioso.
    Sobre a atitude da imprensa nesse caso (e o roteiro de Clint na condução do filme) lembram Ernest Hemingway, que um dia disse:
    "Tudo o que você deve fazer é escrever uma frase verdadeira. Escreva a frase mais verdadeira que você conheça."


A verdadeira Kathy Scruggs e Olivia Wilde