quinta-feira, 5 de novembro de 2020

"O PRESIDENTE": A VIDA É BELA...NO LESTE EUROPEU

    


    Quem assistiu ao filme "A Vida é Bela" (Itália, 1998), dirigido e estrelado por Roberto Benigni, lembra que o personagem dele, Guido, procurava "romancear" o horror nazista num campo de concentração, para o filho pequeno Giosué, vivido por Giorgio Cantarini. Em "O Presidente", do diretor iraniano Mohsen Makhmalbaf, (Geórgia, Alemanha, França, Reino Unido, 2014) vai ver que a "premissa" é mais ou menos a mesma.
    Mas a história aqui é bem diferente: Um ditador de um país fictício ( o nome nunca é citado...) do leste europeu, é afastado do poder através de uma revolução popular. Quase toda a família dele foge de avião no dia da revolta. Ele acaba ficando pra trás com o neto pequeno. Aí o jeito é tentar escapar - via terrestre - até o mar onde um barco viria buscá-los. 
    Nesses dois dias de fuga, o ex-presidente (Misha Gomiashvili) e o netinho (Dachi Orvelashvili) comem o pão que o próprio ditador amassou. Ficaram para trás os dias de riquezas, palácios, poder... agora, vestidos iguais a mendigos, passam fome e sede e circulam pelo país árido a pé ou de carona. 
    Apesar de ter tido sua vida de tirano sanguinário, na fuga ele se comporta como um "bom velhinho", um avô atencioso que quer proteger o neto. Entre "flashbacks" dos tempos de fartura (às custas do povo) em palácio, o ex-presidente tenta, agora,  esconder a realidade cruel do neto fazendo "jogos teatrais", "fingindo" ser determinada pessoa para não serem capturados e mortos pelos guerrilheiros revolucionários. É nesse aspecto que se aproxima de "A Vida é Bela".
    Mas aqui a violência existe e é mais "crua". Não aparecem imagens chocantes. Mas a "sugestão" do que acontece choca os mais sensíveis. 
    A "armadilha" do diretor é essa: É possível "torcer" pelo tirano para que, no final, ele salve a vida do neto? Ou que ele tenha uma "redenção" dos seus terríveis pecados? Ou quem sabe.... a forca e/ou a fogueira são os "melhores destinos" pra quem matou tanta gente?
    Fato é que, ao longo da película, o ex-ditador vai conhecendo (literalmente) na carne o sofrimento que tanto causou ao povo dele.
    Fica a dica!
    Obs: Assistido no Telecine.