sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

CURITIBA: A LUZ DOS PINHAIS SÓ BRILHA NOS BAIRROS NOBRES E NA DECORAÇÃO DE NATAL

     


      Não dá pra jornalista que se preze ficar quieto. Não dá pra político, com vergonha na cara e ética, ficar quieto. Não dá pra qualquer pessoa com um mínimo de empatia (nem precisa ter tanto, um pouquinho já ajuda....) ficar quieta. A "cidade modelo" não é só o centro e os bairros nobres bem cuidados. Não é só a capital que teve o asfalto cinza derramado em profusão durante a campanha política. É também aquela vila distante, "lá onde o vento faz a curva".
    Essa "cidade do futuro" só existe na cabeça do alcaide. Vivemos os mesmos problemas do passado. Problemas sociais seríssimos. Um dos mais terríveis é a falta de moradia. Nessa semana, 311 famílias foram despejadas de uma ocupação no Sabará (Cidade Industrial de Curitiba). Ficaram na rua. Idosas, idosos, homens, mulheres, crianças. A poucos dias do Natal. Onde está a humanidade das autoridades?
    E tem autoridade que vai engordar ainda mais na ceia desse Natal que já vem chegando. Vai comer uns 3 perus de uma só vez e arrotar mensagens de "amor & paz" para todos. Alcaide, edis, poderosos de uma forma em geral, naquela mesa "farta". E no banquete dos miseráveis "fartará" de tudo....
    O problema habitacional de Curitiba não é "só" aquele grupo de 311 famílias jogadas na rua. Calcula-se que a capital paranaense tenha mais de 450 assentamentos irregulares e 150 mil pessoas em situação de vulnerabilidade, quer dizer, num miserê de dar dó. Desse total, 10%, aproximadamente, são famílias que aguardam uma casa financiada pela Cohab. 85% deles são trabalhadores que recebem até 3 salários mínimos.
    Muitos dos curitibanos que moram em "bairros melhores" nem fazem ideia de que existe esse cinturão de miséria em volta da cidade. Também nem se preocupam em saber que essas pessoas existem. Contanto que a "champanhota" e o "chester" estejam garantidos, a noite (pra esses) vai ser feliz!
    Os seres humanos que (sobre)vivem na periferia estão enfiados em lugares que mais parecem "campos de concentração" modernos. Sem casa, sem água, sem esgoto, sem luz, sem emprego.
    Enquanto isso, um ser parrudo (que não é o Papai Noel) diz que "a luz dos Pinhais ilumina nosso Natal". 
    Mas essa luz brilha só na propaganda, na decoração de ruas, parques, praças e prédios. É muito fraca pra chegar lá no fim da cidade, no fim do mundo.