sábado, 13 de novembro de 2021

"O ABUTRE": QUANDO O JORNALISMO DÁ BANHO DE SANGUE

       


     Programas policiais sensacionalistas (classificados como "jornalismo"), começaram a pipocar no Brasil nos anos 90. A grande "referência" foi Luiz Carlos "Cadeia" Alborghetti (1945-2009), que, munido de um "porrete" e com uma toalha no pescoço, dava pancadas na bancada e bradava "clássicos" que se tornaram bordões:
    "Cadeia nele já!" ... "Bandido é bandido, malandragem! E tem que mandar matar!" ... "Tá mais quebrado que arroz de terceira" ... "Eu fico desgraçado da minha cabeça!"
    Dando bordoadas e gritando como um "louco" (como ele mesmo definia esse tipo de atitude) chegou a ser eleito deputado. Mas sejamos justos: Outros tantos radialistas usaram o "jornalismo policial" (que agora alguns "politicamente corretos" preferem chamar de "jornalismo comunitário"...) para se elegerem em algum cargo público...
    E o dito "jornalismo comunitário" já tomou conta da grade de programação das emissoras de TV. Principalmente de manhã, na hora do almoço e de tarde. E vale aquela máxima: "Continua com a entrevista até a pessoa chorar. Sem lágrima, sem ponto de audiência!"
    Poisintão, minha amiga/meu amigo. Essa "prática" é comum, também, em outros países. Os EUA, país do "showbusiness" ("There's no business like showbusiness...") tem esse tipo de programa para dar e vender. Um dos melhores filmes sobre o assunto é "O Abutre" (2014), dirigido Dan Gilroy e com Jake Gyllenhaal no papel de abutre. A história é claramente inspirada na produção argentina "Os Abutres", de 2010. Mas nesse, Ricardo Darin faz o papel de um advogado de porta de cadeia. 
    Jake, por sua vez, faz um ladrãozinho amador que descobre a "fórmula do sucesso e do dinheiro" por acaso: Vê que cinegrafistas independentes filmavam acidentes graves e crimes e vendiam as imagens para as emissoras de televisão. Ele começa a investir nisso e se dá bem (ao modo dele...). 
    Ética e honestidade não são palavras que existem no dicionário dele. Pra conseguir o melhor flagrante, mexe em cenas de acidente, muda corpos de vítimas de posição, fazendo tudo antes da chegada da polícia. Conseguia isso usando um rádio que ouvia a frequência dos policiais.
    Para fazer o filme, o ator emagreceu 10 quilos. Ficou esquelético. A intenção dele era ficar parecido com um "coiote esfomeado". Para sair à caça (no caso, das imagens) e "matar a fome".  Vamos lembrar que o coiote tem hábitos noturnos e Los Angeles fica parte no deserto, terra habitada pelos coiotes.
    A direção de Gilroy (que fez o roteiro de "O Legado Borne") cria uma atmosfera de "triller eletrizante". Com uma câmera na mão e uma ideia sensacionalista na cabeça, Gyllenhaal, dá um show de interpretação. Ele tem, ainda, as luxuosas companhias de Rene Russo e Bill Paxton.
    É o tipo de filme que não soa datado. Pelo contrário. Está sempre atual: com o desenvolvimento acelerado da tecnologia, sempre vai ter uma câmera de segurança ou alguém com um celular sofisticado pra filmar um flagrante. 
    Lou Bloom ( o abutre da história) é um sociopata com uma grande visão de negócios. Ele diz, por exemplo:
    "Se quiser ganhar na loteria precisa ganhar dinheiro para comprar o bilhete".
    E:
    "O motivo pelo qual você busca algo é tão importante quanto o que você busca".

    * Filme assistido no Now/Claro.