segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

O RACISMO, RENATO FREITAS E O PADRE JÚLIO

  


      Domingo, dia de missa, de sermão e de conselhos. Pois nesse domingo, 13, o padre Júlio Lancellotti (que muitos progressistas o consideram "um santo em vida", por causa da profunda preocupação que tem com as causas sociais), mandou uma saudação direto São Paulo para Curitiba e, em especial, para o vereador Renato Freitas (PT). 
    Padre Júlio falou sobre o racismo, principal bandeira de luta do vereador curitibano que é negro. Bora lembrar que, no sábado, 7 de fevereiro, Renato participou da "ocupação" da Igreja do Rosário (construída por escravos negros...) num protesto contra o assassinato do congolês Moise Kabagambe, espancado até a morte no dia 24 de janeiro no Rio de Janeiro.
    O vereador (que afirma ser cristão), ameaçado de cassação pelos colegas dele na Câmara Municipal, chegou a pedir "perdão" pela "invasão" da igreja. Exagero de Freitas. Mesmo porque uma igreja é do povo e não propriedade de qualquer padre. Exagero da Câmara. Vai punir um vereador que fez uma manifestação pacífica contra o preconceito racial?
    Na missa, padre Júlio afirmou:
    "Quem profana a vida é quem mata os negros, os pobres, os povos indígenas, o santuário de Deus é o corpo é a vida, o santuário de Deus não é o prédio. Saudação a todos que pisam em toda forma de opressão, que pisam em toda forma de maldade e de injustiça, para tirá-la do caminho, para que aqueles que destroem a vida, mudem a forma de viver, mudem a forma de agir, para que todos sejamos irmãos uns dos outros e que ninguém oprima, que ninguém discrimine".
    Bora lembrar que o governador Ratinho Junior (PSD), que é conservador/bolsonarista, "condenou" o que chamou de "invasão" da igreja. Políticos também de tendência conservadora pediram a cassação de Freitas. 
    E há aqueles que ficaram num "silencio obsequioso". Vereadores, deputados (estaduais e federais), senadores....todos "em cima do muro"... Ou seja, "deram no pé" pra escapar do tema "polêmico"...
    No (ótimo) livro "Escravidão", o autor - jornalista Laurentino Gomes - explica com detalhes a "parceria" entre portugueses, senhores de engenho e igreja católica no tráfico de escravos. Padres mancharam, sim, as mãos com sangue de negros e de negras. 
    Num trecho do capítulo "A Cruz e o Chicote",  Laurentino cita o reitor do colégio jesuíta de Luanda, Luís Brandão, que "justifica" o envolvimento da ordem no tráfico de escravos com o Brasil:
    "Nunca consideramos esse tráfico ilícito. Na América, todo escrúpulo é fora de propósito."


Padre Júlio na missa desse domingo