sexta-feira, 31 de março de 2023

31 DE MARÇO: GOLPE NÃO É PRA COMEMORAR... É PRA LAMENTAR!

    


             Militar tem que ficar "pianinho" e recolhido aos quartéis. O golpe de 1964 contra a democracia deve ser ignorado. A função da turma de verde-oliva é cuidar da segurança física do país em caso de "ameaça" externa e não se meter em política. 
    Quem também pensa desse jeito é o comandante do Exército general Tomás Paiva, nomeado pelo presidente Lula (PT). E ele vai mais longe: militar que participar de qualquer comemoração do golpe (que completa 59 anos hoje) poderá ser punido pelo Exército. E tem mais: O Ministério da Defesa orientou os generais para que simplesmente ignorem a data. São informações da "Folha".
    E não podemos esquecer, claro, o papel da imprensa no ato golpista. Ela viveu uma relação de amor e ódio com o pessoal dos coturnos. Primeiro apoiou, abraçou, o golpe. Depois sofreu uma censura terrível no período da ditadura (1964-1985).
    Uma pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP traz um estudo interessante. No Rio de Janeiro, Correio da Manhã e Jornal do Brasil apoiaram a derrubada do regime democrático. O Correio chegou até a fazer, na época, um editorial com o título "Herdeiro dos Ideais Democráticos da Revolução de 1964". Esse jornal e o Jornal do Brasil foram favoráveis, por exemplo, ao Estatuto da Terra que negava uma reforma agrária que beneficiava o povo.
    Ainda no Rio de Janeiro, O Globo, e em São Paulo a Folha e o Estado de São Paulo também foram favoráveis à deposição do presidente João Goulart. Para o jornalista e escritor Adálio Dantas, "A participação da mídia contribuiu de maneira decisiva para a implantação da ditadura que dominaria o país por 21 anos. Pode-se afirmar, sem temor de erro, que um único jornal, Última Hora, não aderiu ao golpe". Já a historiadora da USP,  Maria Aparecida de Aquino, disse: "Toda a grande imprensa estava na conspiração contra a democracia. Vai ser uma das articuladoras mais importantes do golpe". *
    O apoio da imprensa não teria sido apenas "institucional", mas também material: Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade concluiu que a Folha de São Paulo teria fornecido carros para o transporte de presos políticos na chamada OBAN - Operação Bandeirantes. Por sua vez, o jornal não admitiu que emprestou os veículos e que o apoio ao golpe militar de 1964 "foi um erro".
    Reconhecimento de "erro" e pedidos de "desculpa" de grupos como Folha, Globo e Estadão não são para reafirmar a defesa da democracia, mas para "limpar a imagem" dessas empresas. 
    Visto que... mais tarde apoiaram o impeachment (sem crime de responsabilidade) da presidente Dilma Rousseff e a Operação Lava Jato que teve o ex-juiz considerado parcial e suspeito pelo STF.
    Capas de jornais com a notícia do golpe militar.

    













E a Última hora foi o único jornal da chamada "grande imprensa" a ser contra a ditadura militar.




* Os depoimentos do jornalista Adálio e da historiadora Maria Aparecida estão no artigo "A imprensa brasileira, o golpe civil-militar de 1964 e a Comissão Nacional da Verdade", de Carmen Regina Abreu Gonçalves e de Elisa Lubeck, da Universidade Federal do Pampa/RS.