Não dá pra imaginar uma vítima sendo punida por um crime que sofreu praticado por centenas (milhares?) de pessoas reunidas. Um massacre! Impossível? Não! Absurdo? Sim! Foi o que aconteceu com o brasileiro Vinícius Junior, atacante do Real Madrid.
Ele foi alvo de racismo de parte da torcida do Valência na tarde deste domingo. Marginais travestidos de torcedores, gritavam "mono" (macaco em espanhol) para o jogador. A partida ficou paralisada por 5 minutos. Vinícius reagiu aos insultos. Teve confusão e o atleta foi expulso.
Você não leu errado. Eu não escrevi errado. "Repíta!": Vinícius Junior foi vítima de racismo e levou cartão vermelho por causa disso.
Tudo que envolve o futebol na Espanha está embalado com a palavra racista. No começo do ano, Vinícius foi vítima de um programa de televisão (que é um lixo) quando um "comentarista" resolveu "reclamar" das dancinhas do jogador quando ele marcava gols.
Parte da mídia, grande parte da torcida espanhola, dirigentes de clubes e até jogadores, têm participação nisso. Ou por atos, ou por palavras, ou por omissão.
Bora lembrar que ser contra o racismo não é uma questão de "opinião". É uma questão de princípios. De ser antirracista.
Na rede social, Vinícius Junior bateu pesado nas ofensas que vem sofrendo há algum tempo. Até ameaçou deixar o Real Madrid e a Espanha. Mas nunca abandonar a luta contra os racistas:
Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui".
O técnico do Real, Carlo Ancelotti, também se manifestou sobre a agressão ao jogador dele:
"Falei com ele durante o jogo porque o ambiente era muito quente e muito ruim. Perguntei se ele queria continuar. Eu não queria tirá-lo porque o ambiente é racista. Nunca me aconteceu. Assim não. É inaceitável. A La Liga tem um problema que não é Vinicius, ele é a vítima. O que fazer? Não se pode jogar futebol assim. Eu diria o mesmo se tivesse ganhado É muito grave. Insultam Vinícius o tempo todo e depois dão vermelho para ele. Estou muito triste. É uma liga com grandes equipes, mas temos de tirar isto. Estamos em 2023. A única maneira é parar o jogo. É verdade que há um protocolo, mas é preciso ir para casa".
O que Ancelotti deveria ter feito? Tirado o time de campo em protesto e encerrar o jogo. Caso ele não fizesse isso, a iniciativa deveria partir dos jogadores do Madrid.
Do jeito que os casos vão se sucedendo, sem punição, fica evidente que "La Liga" virou "La Liga Racista". Tem a conivência dos diretores da Liga, dos diretores dos clubes, de alguns técnicos e de alguns jogadores. O governo da Espanha também "se finge de morto" pra "não se incomodar".
Por falar em governo, o governo do Brasil se manifestou através do Ministério da Igualdade Racial:
"Repudiamos mais uma agressão racista contra o Vinícius Junior. Notificaremos autoridades espanholas e a La Liga. O governo brasileiro não tolerará racismo nem aqui nem fora do Brasil. Trabalharemos para que todo atleta brasileiro negro possa exercer o seu esporte sem passar por violências".
Até agora não há informação de que algum jogador brasileiro tenha demonstrado solidariedade a Vinícius Junior. Aliás, essa é uma "especialidade da casa": Omissão e alienação.