quarta-feira, 2 de março de 2022

QUANDO A OTAN BOMBARDEOU A IUGOSLÁVIA EM NOME DOS "DIREITOS HUMANOS"

    
Kosovo sob intervenção da OTAN 
(foto: Official United States Marine Corps)


    O mundo assiste estupefato o "tratamento" que a Rússia tem dado à Ucrânia. Putin justificou a invasão sob o argumento de que se o país do presidente Volodymyr Zelensky entrasse na OTAN, misseis ficariam apontados para Moscou no país vizinho. É a justificativa dele. Agir com violência não é o caminho. Mas...
    Bora lembrar que há 23 anos, essa mesma OTAN, capitaneada pelos Estados Unidos, despejou toneladas de bombas em cima da (extinta) Iugoslávia sob o pretexto de praticar uma "intervenção humanitária" (sabe Deus o que queriam dizer com isso...). Em verdade foi uma intervenção militar. O ataque durou de 24 de março a 10 de junho de 1999. Detalhe: Foi a primeira vez que a Organização do Tratado do Atlântico Norte usou o poderio militar sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU.
    Os EUA (que se consideram a "polícia do mundo") na época eram governados por Bill Clinton. O poderoso chefão americano mandou bombardear Belgrado (que ficava a mais de 300 quilômetros da zona de conflito). Resultado: A morte de centenas de civis inocentes. Dois balanços da tragédia: Para a televisão Russia Today, morreram 1200 civis e 4500 pessoas ficaram feridas na operação. Para o Human Rights Watch, aproximadamente 500 civis foram mortos.
    Críticos à intervenção chamaram a invasão de "guerra genocida dos EUA". Também afirmaram que a "preocupação humanitária" da OTAN era, na verdade, uma ação seletiva em Kosovo. Declararam, ainda, que o ocidente era indiferente perante o genocídio em Ruanda (1994) e à crise humanitária que acontecia na mesma época no Timor-Leste. Mais: A razão do bombardeio seria, de fato, buscar a deposição do então presidente da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, considerado um "desafeto incomodo" para os países do ocidente.
    Bill Clinton teve um "problemão a mais" nessa intervenção na Iugoslávia. Em 14 de maio de 1999, ele teve de se desculpar - por telefone - diretamente com o presidente da China, Jiang Zemin. Motivo: Jatos da OTAN bombardearam "acidentalmente" a embaixada da China em Belgrado. Resultado: 3 mortos e 20 feridos. Apesar do então presidente dos EUA ter dito que foi "sem querer", os chineses nunca aceitaram essa versão. 
    Foram vários meses de tensão nas relações diplomáticas (ou seja sem relação...) entre os dois países.
    Para o filósofo e ativista político norte-americano Noam Chomsky, em nome de "intervenções humanitárias", os EUA e  a OTAN praticam o que ficou conhecido como "novo internacionalismo". Ele explica isso em livro publicado no Brasil em 2003 com o título: "Uma nova geração define o limite - os verdadeiros critérios das potências ocidentais para suas intervenções militares".
    O resumo do pensamento de Chomsky: Em nome da dita "comunidade de nações", é possível usar a força sempre que se considere adequado e em obediência às "modernas noções de justiça". Essa tese, segundo o ativista, foi amplamente aplicada por Bill Clinton e Tony Blair (ex-primeiro ministro britânico).
    Para Noam Chomsky, essa doutrina americano-britânica pode ser definida numa frase: "Os tiranos que se cuidem".
    "Tiranos" todos aqueles que ousarem contrariar os interesses dos Estados Unidos e da OTAN.


Clinton teve de se desculpar pessoalmente com os chineses pelo "bombardeio errado"




Chomsky e a tese do "novo internacionalismo"