segunda-feira, 18 de abril de 2022

"CLÁSSICO É CLÁSSICO": COM JOHN FORD, "MISÉRIA É MISÉRIA EM QUALQUER CANTO"

    

Filho e pai discutindo: Barriga vazia não tem alegria


    Uma vez pediram ao "enfant terrible" Orson Welles pra citar três grandes diretores do cinema. Ele não hesitou: "John Ford, John Ford e John Ford".  Para vários cineastas, Ford é o grão-mestre da direção. Ao longo dos anos influenciou muita gente. Até Quentin Tarantino é "devoto" dele. Em 51 anos de carreira, dirigiu 133 filmes. É o diretor que mais ganhou o prêmio Oscar: 4 estatuetas douradas. 
     Em 5 décadas de trabalho, descobriu e lançou para o estrelado vários(as) artistas. Entre eles, John Wayne. 
    O prêmio de Direção da Academia de Hollywood ganhou por: "O Delator" (1935); "As Vinhas da Ira" (1940); "Como Era Verde o Meu Vale" (1941); e "Depois do Vendaval" (1952). "Como Era Verde o Meu Vale" também ganhou o Oscar de Melhor Filme. Além dessas premiações ainda recebeu outras 10 indicações do Oscar entre Melhor Diretor e Melhor Filme.
    Dentre tantas produções, pelo menos uma, "Caminho Áspero" ("Tobacco Road"), de 1941, teve problemas de público e de crítica. O filme é adaptação de uma peça que ficou 7 anos (!) em cartaz na Broadway - e que causou escândalo. Para a tela grande, tiveram de dar uma "limpada no roteiro" por causa dos códigos de moralidade da época no cinema. Nem o próprio roteirista do filme, Nunnally Johnson, gostou do resultado final. Achou "muito ruim". A autora do romance (no qual se baseou a peça que inspirou o filme...), Erskine Caldwell, igualmente não gostou do que viu na telona. Afirmou que a história foi "distorcida".
    O enredo traz um retrato da família Lester, agricultores muito pobres da Geórgia que estão quase sendo despejados por causa do atraso no aluguel (arrendamento) das terras. Encabeçando o elenco está Charley Grapewin (que já trabalhou com Ford em "Vinhas da Ira"). Também tem a participação de uma muito jovem Gene Tierney (que se tornou uma das mais belas atrizes de Hollywood), e de Dana Andrews, esse presença frequente no "cinema noir" dos anos 40.
    A fragilidade é o ponto central dessa obra do diretor: A família que passa fome; a casa que não resiste aos temporais; cercas que se desmancham por qualquer motivo; e o carro novo, que a mulher do filho do agricultor compra com uma indenização, logo está todo arrebentado. 
    Chama a atenção, também, a beleza  e a pequeníssima participação de Gene Tierney. São apenas algumas cenas com pouquíssimas falas. Mas um dos momentos marcantes é quando ela vê o reflexo do seu belo rosto. Um "take" rápido, mas inesquecível.
    John Ford consegue tirar momentos de comédia no meio de tanta miséria. Mas se uma palavra pode definir o longa é "resiliência". Os miseráveis têm esperança de que vão dar a volta por cima; de que vão encontrar o que comer; e que vão conseguir manter o pedaço de terra onde plantam. 
    Talvez o que incomodou alguns críticos e espectadores foi a forma com que a pobreza é mostrada. Ficando aquela sensação de "esse não é o meu mundo".
    Ford foi um dos melhores diretores das questões sociais dos Estados Unidos.

                                

A personagem de Gene Tierney está disposta a seduzir o próprio cunhado pra se livrar da miséria


Ford dirigindo: Um retrato do país que os americanos não queriam ver


       * O filme está disponível de graça no YouTube.