"Não impedi a entrada da PM e buscava apenas coordenar uma resposta organizada. Ali estava um clima de nervosismo e minha função era acalmar”. Afirmação do general Júlio Cesar de Arruda ao STF - Supremo Tribunal Federal sobre a tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito no 8 de janeiro de 2023.
Mas, segundo a coronel da Polícia Militar do Distrito Federal, Cíntia Queiroz, a verdade é outra. Ela - que esteve presente nas negociações naquele 8 de janeiro - afirmou que o Exército impediu que a PMDF cumprisse a ordem do STF para prender os bozonaristas acampados no Setor Militar Urbano em Brasília.
No momento em que se dispersavam os baderneiros da Praça dos Três Poderes, o general perguntou ao comandante da PM, coronel Fábio Augusto, se o batalhão iria ao acampamento cumprir as ordens de prisão. A resposta foi "sim". Aí Dutra pediu uma reunião com o interventor federal Ricardo Capelli.
Houve uma discussão entre eles e o general alegou que uma ação à noite causaria mortes. Foi perguntado se os acampados estavam armados. Ele disse que não, mas que eles poderiam "ser pisoteados". Uma nova reunião foi marcada para a manhã seguinte.
Cíntia, em entrevista ao ICL Notícias, afirmou que o clima continuou tenso. O diálogo, segundo ela, foi o seguinte:
General em direção ao interventor --- "O senhor ia entrar em área militar do Exército Brasileiro sem falar comigo?"
General para o comandante da PM --- "O coronel Fábio não vai querer um embate com o Exército Brasileiro, né coronel?"
Coronel Fábio --- "Espero que não, mas se a ordem for dada..."
Em entrevista ao ICL, Capelli disse:
"Ele [o general Arruda] ameaçou dizendo que tinha um pouquinho mais de tropas que o coronel da PM. Arruda manteve uma linha da Polícia do Exército protegendo o acampamento e mobilizou blindados".
Minha amiga/meu amigo, esse, com certeza, foi um dos momentos mais tensos, mais graves, da tentativa de golpe. As tropas do exército e da PM estiveram muito próximas de um confronto.
Guardadas as devidas proporções, isso lembra - mesmo que à distância - a Crise dos Mísseis em 1962, quando a União Soviética começou a enviar mísseis nucleares para Cuba. Essa movimentação quase levou o mundo a uma guerra nuclear.
Como escrevi acima, são situações completamente diferentes. Mas a crise de Brasília - repito, guardadas as proporções muito distantes - poderia ocasionar uma batalha campal que levaria a uma guerra civil no país. Faltou muito pouco pra isso.
Depoimento da coronel Cíntia foi importantíssimo!
