sábado, 1 de maio de 2021

FRITZ LANG E ARTHUR MILLER: EM DOIS FILMES FUNDAMENTAIS, MOSTRAM QUANDO O "SONHO AMERICANO" VIRA PESADELO

   


    O "American Dream" foi representado no cinema principalmente nos anos 40 e 50. Os ideais de liberdade, as chances de sucesso e prosperidade através do trabalho duro numa sociedade sem obstáculos. Numa definição: "A vida deveria ser melhor e mais rica e mais completa para todos".
    Uma casa imensa, um carro enorme no pátio, jardins sem cercas, sem muros. Uma família bonita, todos saudáveis, com boa qualidade de vida e uma vizinhança feliz que leva torta de maçã quentinha na porta um do outro....
    Esse é o IDEAL americano de vida. Mas...para uma grande parcela da população do país, as coisas NÃO SAÍRAM como se esperava. Os conflitos sociais/raciais que o digam...
    O cinema, claro que, numa quantidade bem pequena de produções, também retratou isso. Um exemplo vem lá da década de 30. Em 1937, o diretor austríaco Fritz Lang rodou "Vive-se Uma Vez Só" ("You Only Live Once") com Henry Fonda no papel principal masculino. Fonda interpreta o ex-presidiário  Eddie Taylor . Numa juventude de delinquência, chegou a ser preso 3 vezes. Já poderia "pedir música no Fantástico", mas aí é outra história...Poisintão. Voltando ao que interessa: Ao sair da cadeia, o diretor do presídio avisou: "Se você voltar aqui pela quarta vez, vai ser prisão perpétua!"
    Ao lado da namorada Joan (vivida pela atriz Sylvia Sidney) quer ter uma vida de sonhos: casar, ter filhos, uma bela casa. Só que tudo dá errado quando ele é acusado de um crime. Será culpado ou inocente? Numa sociedade conservadora que pré-julga e condena qualquer pessoa, dá pra ter uma ideia de como a história do pobre coitado vai caminhar... Lang foi um especialista nesse tipo de filme: mostrar o lado sinistro do ser humano através de enredos construídos em produções que valorizavam uma iluminação sombria. Filho de arquiteto, Lang foi um especialista, também, em artes plásticas: usava e abusava de linhas retas, de enquadramentos fechados, "encaixotados" que destacavam a dor e o sofrimento das pessoas.
    Agora... "sonho americano" que não deu certo (mesmo!) tem um grande representante na produção "A Morte do Caixeiro Viajante" ("Death of a Salesman") , de 1951. Filme baseado na peça de teatro escrita por Arthur Miller. Pelo texto, Miller recebeu o prêmio Pulitzer.  A obra ganhou algumas versões na telona. A primeira em 1951 com direção de László Benedek. O ator Fredric March faz o caixeiro Willy Loman. O enredo: Foi uma vida inteira (mais de 30 anos) na estrada e Loman chega a conclusão que não ganhou nada, apesar de ter "ralado pra caramba". Aliás, ganhou: Desespero e decepções. Aqui, o personagem principal tem o sonho de ser reconhecido por todos, ter o carinho de todo mundo, viver em paz com a família. Mas as escolhas erradas ao longo da vida, a perda de oportunidades, os falsos valores que encontrou pelos caminhos que percorreu, levam a um final trágico. 
    Como termina, todo mundo sabe desde o começo. O título "entrega" isso. Aqui, é saber como Loman "chegou lá". Com um texto forte, pesado, contundente de Miller, acompanhamos a via crucis do caixeiro viajante.
    Apesar de ter sido indicado a 5 Oscars, não ganhou nenhum. Dá pra imaginar o motivo: A Segunda Guerra Mundial havia acabado há apenas 6 anos. Os americanos não queriam saber de desgraça.            Naquele momento, queriam mais é sonhar.


O Caixeiro "viajando": Alucinações em público e "briga" com pessoas que não existiam...


Fonda e Sidney: Tudo o que o "casal de pombinhos" queria era ser feliz