segunda-feira, 13 de setembro de 2021

A FANTÁSTICA FÁBRICA DE SENSACIONALISMO

   


     Foi anunciado, para domingo que vem, a edição número 2.500 do "Show da Vida". O programa, acredito, mais longevo da televisão brasileira que mistura informação com entretenimento. O curioso é que ele apenas surgiu, a princípio,  como explicou o ex-diretor-geral da Globo, Boni, pra encher a programação do domingo à noite, porque, em 1973, Chacrinha, "dono" do horário, havia saído da emissora.
    Segundo contou o executivo em "O Livro do Boni", o novo programa deveria ser uma revista dominical: "Eu não queria apenas um programa de reportagens com números musicais entremeados e sim alguma coisa que reunisse tudo o que a televisão fazia, com notícias, reportagens, música, humor, circo, dramaturgia e curiosidades". Vamos lembrar que Boni também é o autor da letra da música de abertura do programa. Guto Graça Mello fez o arranjo e Aloysio de Oliveira, a produção musical.
    De lá pra cá, 48 anos se passaram. Muita coisa mudou no mundo e - obviamente - no Fantástico. Mas se você reparar atentamente, o "Show da Vida" descambou para o popularesco. Imagino que seja para enfrentar o sensacionalismo da Record e o popularzão programa Sílvio Santos. Só SBT e Record incomodam. 
    Com poucas variações, a pauta do Fantástico não surpreende mais há algum tempo (ao contrário do que Boni imaginava e queria...): É baseada em reportagens policiais (sempre tem algum golpista/quadrilha sendo preso,  sangue jorrando em crimes); uma série sobre bichos (bicho com certeza DÁ audiência. Ninguém compraria série da BBC à toa...); "colunas" sobre curiosidades (cada vez mais); propaganda de algum filme que está para estrear; e muita propaganda do Globoplay. E tem ainda os gols. Tudo com um tratamento cada vez mais popular.
    Ainda tem algumas poucas notícias do domingo. E quando o assunto é manifestação política, todo cuidado é pouco. Toda pasteurização é importante.
    Num país com 14 milhões de desempregados e 19 milhões (eu disse 19 MILHÕES) de pessoas que PASSAM FOME, já estava mais do que na hora, prestes a se "comemorar" 2.500 edições, de se pensar em reportagens especiais que realmente acrescentassem alguma coisa à vida dos brasileiros. 
    E é o próprio Boni quem diz:
    "O Fantástico era fantástico. E ainda há lugar para um grande programa, com o formato de 'magazine', na televisão brasileira."
    Revista sim. Nas não a fantástica fábrica de sensacionalismo. Mesmo que venha embalada pra presente.