domingo, 19 de setembro de 2021

"SCHUMACHER": O FILME "CHAPA-BRANCA" FAZ LEMBRAR O "HOJE, NÃO...HOJE, NÃO..."

    

    É preciso ser honesto (isso não é "qualidade", mas "obrigação") com a amiga(o) leitor(a): "Schumacher", da Netflix, é o "único filme aprovado pela família do piloto". Ou seja, é chapa-branca, ou, na linguagem do automobilismo, é "bandeira branca"... Isso é bom ou é ruim? 
    É bom no sentido em que os parentes abrem arquivos sobre fatos da vida do piloto. Com declarações e imagens inéditas. Ótimo para quem é apenas "fã" e não vê a produção com um olhar mais crítico. Mas é ruim para quem tem uma visão mais "apurada", que quer enxergar o piloto por diversos ângulos da história, aí "o pneu murcha"....
    Por se tratar de uma "produção familiar", é praticamente 1h53min de "exaltação" à lenda do alemão. Claro que há momentos curiosos, como o começo da carreira, quando sem dinheiro, ele pilotava karts com pneus velhos catados do lixo. Ou quando teve que disputar uma classificatória (ainda no kart) por Luxemburgo (que não cobrava por isso) e não pode disputar pela Alemanha porque não tinha dinheiro pra pagar a disputa no país onde nasceu. E tem, claro, os depoimentos emocionantes da mulher e dos filhos.
    Mas, "enquanto" pessoa pública e profissional de automobilismo, o filme vai passando em "linha do tempo" pela vida de Schumi. Em alguns momentos, inclusive, de forma bem acelerada. 
    Falemos dos brasileiros: O único que aparece é Ayrton Senna. Tricampeão, liderava a prova em Ímola, naquele 1º de Maio de 1994, quando passou reto na curva tamburello e acertou em cheio uma barreira de pneus. Schumacher acompanhou de perto o acidente e a morte de Senna: Ele vinha logo atrás, em segundo lugar. O alemão disse que ficou várias noites dormindo muito mal e pensando, durante um tempo, cada vez que ia para uma prova, em que momento ele poderia também morrer em um acidente. Mais: Numa entrevista coletiva, tempo depois, emocionado, chorou quando bateu um recorde do rival do Brasil. 
    Mas, no doc, Senna é retratado apenas no acidente e é apresentado como um cara temperamental, que foi dar uma bronca no novato Schumi por causa de uma batida entre eles na primeira volta do GP da França em 1992.
    E quanto a Rubens Gonçalves Barrichello? Ele (que fez parte da equipe Ferrari ao lado do alemão de 2000 a 2005) simplesmente é ignorado. Barrichello teve participação importante nos 5 títulos de Schumacher de 2000 a 2004. Ao todo foram 7 campeonatos, outros dois em 94 e 95.
    Fiel escudeiro do alemão, o brasileiro algumas vezes teve de "abrir para o companheiro passar" (como se diz na F1). Claro que não há do que Rubinho reclamar. Porque, como diz o ditado, "o combinado não custa caro", mas fica a frustração - pra quem gosta de assistir automobilismo - desse "jogo de equipe" que todos fazem.
    Além de Senna, única outra citação ao Brasil que encontrei foi nos créditos finais. Em meio ao agradecimento a centenas de nomes, aparece lá "Globo TV". Deve ser sobre a cessão de alguma imagem de Senna...
    Pouquíssima coisa tem sobre "polêmica" nas pistas. Uma delas envolveu David Coulthard. Em 30 de agosto de 1998, no GP da Bélgica, chovia pra caramba. Lá deve ter ocorrido a maior barbeiragem da carreira de Michael Schumacher. Considerado o "Rei da Chuva", ele se deu mal com o tempo péssimo. Na volta 25, ao tentar ultrapassar o escocês, acertou em cheio a traseira do carro dele. É aquela situação: Parece que o motorista vem "distraído" e bate no carro da frente.
    Fim de prova para os dois. E Schumi ficou "possesso". Nos boxes, saiu que nem louco correndo para a garagem da McLaren pra "pegar" Coulthard. Os mecânicos separaram os dois que foram levados para uma sala de reuniões para que houvesse um "entendimento". De acordo com o escocês, rolou esse diálogo:
    COULTHARD --- "Erramos. Eu assumo a minha parte no acidente. Mas você precisa assumir a sua".
    SCHUMI --- "Qual é a minha parte?"
    COULTHARD --- "Você bateu na traseira do meu carro. Tem que entender que é excelente piloto, mas que também erra de vez em quando".
    SCHUMI --- "Erro? Não estou lembrado disso".

    Uma das imagens mais marcantes da carreira do alemão não está do documentário. Mas relembramos aqui: Era 12 de maio de 2002. GP da Áustria. Na última volta, no último instante, Barrichello teve de deixar Schumacher passar por ordem da Ferrari. No pódio, Schumi entregou o troféu de campeão ao brasileiro. Foi a inesquecível narração de Cleber Machado com o "Hoje não...hoje não... hoje sim!"
    Assista:

(fonte: YouTube)

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