Dois jornalistas foram anunciados, ontem, sexta-feira (08/10), como ganhadores do prêmio Nobel da Paz "pelos esforços de salvaguarda da liberdade de expressão, pré-condição para a democracia e paz duradoras". A filipina Maria Ressa e o russo Dmitry Muratov foram laureados pela Academia Sueca de Estocolmo.
Dito isso, minha amiga, meu amigo, falemos de jornalismo, mas também de... cinema. O encontro dos dois sempre rendeu boas histórias. Uma delas é um dos melhores filmes políticos da Itália nos anos 70. Mix de documentário e ficção (começa com cenas reais de protestos nas ruas de Milão), "O Monstro na Primeira Página" (1972, dirigido por Marco Bellochio) trata de um período de eleições e convulsão social.
Além do "quebra-pau" entre polícia e manifestantes, eleições se aproximam e os "ânimos ficam exaltados". A cidade está cheia de cartazes e de faixas fazendo propaganda dos partidos comunista, socialista e democracia cristã, entre outros.
Nesse "climão eleitoral", a "gasolina no fogo" é o assassinato de uma garota rica de 14 anos. Ela é estuprada, morta e o corpo abandonado na beira de um riacho. O editor-chefe do "Il Giornale" (jornal ultraconservador), o direitista fascistão Bizanti (Gian Maria Volonté), fazendo o serviço sujo para o patrão e empresários que bancam a publicação, cria uma "realidade paralela" jogando a culpa pelo crime num jovem ativista pobre de esquerda.
Qual o objetivo sórdido de Bizanti? Com reportagens seguidas de primeira página, ele quer desacreditar a esquerda culpando o manifestante pelo assassinato. Manipulando a opinião pública com as manchetes sensacionalistas, o "Il Giornale" serve de panfleto para a eleição da direita.
Mas...o repórter investigativo do jornal, Roveda, descobre o verdadeiro assassino e conta para o editor-chefe. O que Bizanti faz? Ele e o empresário que financia o "Il Giornale", decidem sustentar a história pelo menos até passarem as eleições...
E afinal, quem é o "monstro na primeira página"? O matador da garota... ou o editor-chefe que manipula histórias?
Uma curiosidade: o ator principal, Gian Maria Volonté, foi um grande ativista político de esquerda. Chegou a ser filiado ao partido comunista italiano e, nesse filme, ele é o oposto do que era na vida real.
E aí? Viu alguma semelhança entre o filme e a nossa realidade? Entre o jornal sensacionalista conservador e a imprensa brasileira? Entre aquela época da Itália e o que acontece no Brasil?
Bora Pensar!
Volunté é Bizanti, o jornalista canalha que cria uma história para "ferrar" com a esquerda
DICA: O filme esta disponível de graça no YouTube,