domingo, 23 de fevereiro de 2025

"TEMOS PAPA": O PAPA QUE NÃO QUIS SER... POP!

   



     Pra ser exato, não é que ele "não quis", é que não se sentia preparado para ser o representante de Deus na Terra. Eleito no conclave, apareceu a fumacinha branca no Vaticano, mas na hora de ser apresentado aos fiéis na praça de São Pedro - e ao mundo - teve uma crise de pânico, começou a gritar e saiu correndo. Isso quando ainda estava atrás de uma cortina, sem aparecer na sacada da Basílica de São Pedro.
    Assim começa a história de "Habemus Papam" ("Temos Papa", 2011), filme italiano vendido erradamente no Brasil como uma "comédia". De comédia, como se conhece esse gênero, não tem nada. Tem, sim, muita ironia, drama, melancolia e vários momentos poéticos. 
    O ótimo Michel Piccoli (1925-2020) interpreta o cardeal Melville que é escolhido Papa pela intervenção divina - como se diz no Vaticano. Citei a ironia porque é através dela que o diretor/ator Nanni Moretti  retrata o conclave. Na visão dele, apesar de ser o topo da carreira de qualquer padre, tornar-se Papa é uma responsabilidade - literalmente - global. É por isso, segundo a produção, que, na hora do voto, os cardeais ficam "cochicando" pra Deus: "Que não seja eu... que não seja eu...".
    Surtado, o novo Papa foge e sai pelas ruas do Vaticano e de Roma, sem destino, vagando e buscando explicações do motivo de se comportar assim. E ele não é reconhecido nem pelo povo nem pela imprensa porque os cardeais mantiveram em segredo quem seria o escolhido.
    Além da visão irônica de Moretti, ele também traz uma crítica social ao comportamento da igreja e sua organização. Mas em nenhum momento o cardeal Melville questiona a própria fé. Só acredita não estar à altura da responsabilidade de conduzir um rebanho de um bilhão e 390 milhões de fiéis ao redor da Terra. Dado da Santa Sé, de 2024.
    O único "pecado" do filme foi uma escorregada no roteiro: Nanni Moretti não contente em dirigir (o que já dá trabalho pra caramba...) ainda atuou fazendo o psicanalista ateu (!) Brezzi que atende o Papa. O script "profana" o andamento da história quando Moretti (que também escreveu o roteiro!) inventa um jogo de vôlei (meu Deus!) entre os cardeais para passar o tempo enquanto não se resolve quem será o Papa. Se Melville ou outro...
    O lado (muito) positivo de "Temos Papa" é que apresenta os cardeais como humanos como outras pessoas. Sem o sentimento de "santidade", mas com medos, vaidades e competitividade.

                                       



    * O filme está disponível no Prime Vídeo.