Ela foi diagnosticada com uma doença fatal causada por contaminação radioativa. Levava uma vida pacata numa cidadezinha do interior dos EUA, mas sempre sonhava em conhecer a cidade grande, no caso, Nova York.
A notícia sobre a mocinha bonita e interiorana que estava "com os dias contados" se espalhou. Um repórter ambicioso que queria fama a todo custo (e não checava lá com muito rigor suas fontes...) ficou sabendo da história e propôs ao chefe: Vamos trazê-la para Nova York, acompanhar seus últimos dias aqui num tour pelos locais que ela deseja conhecer. Passeio exclusivo. Entrevista exclusiva. Vamos acompanhar o enterro convidando o prefeito e o governador para a cerimônia. Na megalomania do repórter, seria um cortejo com 30 mil carros e meio milhão de pessoas nas ruas.
Só teve um "problema": O médico (um sujeito meio amalucado e que vivia bêbado) errou o diagnóstico. A garota não morreria da doença. Estava em perfeitas condições de saúde. Mas ela levou a farsa adiante.
É assim que tudo começa em "Nada é Sagrado", comédia romântica dirigida por William Wellman (que não era um mestre da comédia, mas que aqui acertou a mão), com Carole Lombard fazendo Hazel Flagg; Fredric March, o jornalista Wally Cook; Charles Winninger como o médico Dr. Enoch; e Walter Connoly, o diretor do jornal, Oliver Stone. São os papéis principais. Todos estão ótimos.
O filme é de 1937 e tem um detalhe importante: Foi produzido em cores. Era no sistema "technicolor", que, em resumo, consistia em gravar com uma câmera especial que dividia - com um prisma - as três cores básicas: vermelho, azul e verde. A captação principal era em preto e branco. No laboratório, as cores (reais da cena) eram acrescentadas ao filme. O colorido ficava vibrante e saturado que dá essa característica dos filmes da era de ouro de Hollywood. Produções em cores nos anos 30 e 40 eram raríssimas por causa do custo.
Depois da "pausa técnica", voltamos à história: Hazel viaja para Nova York, com o jornalista e não fala para ele que não está com o diagnóstico fatal. Cook, com toda a ambição do mundo e empolgado com a beleza da moça, nem checou a veracidade dos fatos. Por instintos naturais, os dois acabam se apaixonando...
"Nada é Sagrado" é , portanto, uma sátira/crítica ao jornalismo que, muitas vezes, peca na verificação do que é verdade ou não.
FREDRIC MARCH
O ator que faz o repórter não é muito conhecido do grande público, mas é premiado, bem premiado. E tem um recorde: É o único ator a ganhar 2 prêmios Oscar e dois prêmios Tony (do teatro americano) de Melhor Ator. Mas os Oscars não vieram por esse filme, apesar de ele estar muito bem. Venceu em 32 por "O Médico e o Monstro" e em 47 por "Os Melhores Anos de Nossas Vidas".
CAROLE LOMBARD
Além de 1,68m de altura, cabelos loiros e olhos azuis (foi o padrão de beleza de Hollywood até o fim dos anos 50...), era considerada uma boa atriz. Chegou a ser a mais bem paga no final da década de 30. E tinha uma característica inigualável: o timing perfeito para a comédia. Era uma especialista nas chamadas "screwball" , as comédias malucas. Tanto em diálogos rápidos e afiados, quanto no humor físico, era insuperável. E , na vida real, Lombard tinha o mesmo humor que levava para as telas.
Casou com o ator Clark Gable em 1939, mas morreu tragicamente em 1942 com apenas 33 anos. Foi num acidente aéreo. Ela havia ido de Los Angeles para Las Vegas para participar da venda de bônus para arrecadar recursos para as tropas americanas na Segunda Guerra Mundial. Quando estava retornando para L.A. - numa noite chuvosa - o avião (de pequeno porte) se espatifou contra uma montanha logo depois de decolar de Vegas.
Entre pontas, participações e papéis principais, esteve em 79(!) filmes. Começou a trabalhar muito nova, mesmo assim, teve uma carreira curta. Era uma época em que Hollywood produzia filmes numa "linha de montagem".