sábado, 1 de fevereiro de 2020

PAULO FRANCIS VAI PRO CÉU

 

    Machista, racista, arrogante, petulante, afetado, conservador. Paulo Francis era tudo isso. Mas também era um dos melhores jornalistas que já existiram entre os terráqueos. Contradição? Pode ser...O fato é que ele viveu na época do "politicamente incorreto aceitável". O problema do Francis, se é que se dá pra dizer assim..., é que ele "ia além" no politicamente incorreto. Falava o que pensava sobre qualquer pessoa e "não estava nem aí" para o que pensassem dele...
    Quando "dava na telha", destruía uma personalidade pública ou um adversário só pelo prazer de agredir verbalmente essa pessoa. "Munição" pra isso não faltava: a inteligência, a cultura, a erudição de PF não tinham limite.
    E foi essa falta de "limite" que causou a morte dele em 4 de fevereiro de 1997, ou seja, há 23 anos. No fim de 1996, na bancada do "Manhattan Connection", ele acusou a então diretoria da Petrobras (governo FHC) de ser corrupta, de ter dinheiro depositado na Suíça. O apresentador do programa, Lucas Mendes, ainda insistiu: "Francis, você tem provas? É isso mesmo?". Francis disse que era verdade mas não divulgou provas, não disse de onde vinha a informação. Como o "Manhattan" era gravado, depois da gravação, Mendes procurou  saber e Francis desconversou. O programa foi ao ar e parou na Justiça. PF foi processado nos Estados Unidos pelo comando da estatal.
    O então presidente Fernando Henrique disse que ainda tentou convencer Joel Rennó (presidente da Petrobras) a retirar o processo, mas não teve jeito. Abalado com uma indenização de 110 milhões de dólares (dinheiro que obviamente ele não tinha...) que teria de pagar aos diretores da empresa (caso perdesse a causa), Francis teve um infarto e morreu.
    Tudo isso está contado no documentário "Caro Francis" dirigido, em 2008, pelo jornalista e diretor de cinema Nelson Hoineff ( que morreu em dezembro de 2019). A produção é recheada de imagens de bastidores e depoimentos de amigos. O trecho do "Manhattan" no qual ele acusa a diretoria da Petrobras também está lá. Importante: "Caro Francis" está disponível, de graça, no Youtube.
    No documentário, ex-colegas (e a viúva, Sonia Nolasco, jornalista e escritora) contam curiosidades sobre a vida do jornalista. Por exemplo: Que ele gostava muito da música de Wagner e que escutava os discos no volume máximo, de madrugada, perturbando os vizinhos que queriam dormir. 
    Também era muito generoso: Se preocupava se um amigo estivesse desempregado. Falava com patrões pra conseguir uma vaga para o colega. 
    Uma vez viajou de Nova York ao Rio só para  juntar os conhecidos e ir à casa de um parceiro que estava com depressão. Francis ficou só dois dias na cidade e voltou aos EUA.
    Eram os anos 90 e , provocador, afirmou no ar: "Se o governo do FHC não melhorar até 98, voto no Lula na próxima eleição!". Ao mesmo tempo em que dizia ser "um absurdo" Lula querer ser presidente da República.
    Entre tantos adversários que "destruiu", amigos que "segurou", Paulo Francis faz falta ao nosso Jornalismo. Como ele disse uma vez: "Jornalista não tem mais opinião. Agora  só fazem análise de pesquisa. ". E olha que isso foi nos anos 90. Imagine agora em que o "jornalismo" é dominado por histórias de bichinhos, dramalhões, contos "edificantes", mensagens de "você, desempregado, pode chegar lá...", apresentadores/repórteres fazendo caras e bocas e distribuindo beijos e abraços como se fossem Elke Maravilha....
    
    *** "Paulo Francis Vai Pro Céu" é uma banda de rock irreverente nascida em 1997 no Recife. Entre seus sucessos estão "Na Cama com Ariano" e "Eu Queria Morar em Beverly Hills". No VMB, ganhou um prêmio da MTV com o clipe "Perdidos no Espaço".
    
    
    

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.