Do tempo em que eu assistia novela: Acredito que ele foi o principal autor da televisão brasileira. Escreveu as duas melhores (na minha humilde opinião): "Dancin' Days" (1978) e "Vale Tudo" (1988). Gilberto Braga, que sofria de Alzheimer, morreu, aos 75 anos, por complicações de uma infecção no estômago, na noite dessa terça-feira no Rio de Janeiro.
"DD" foi a "modernização" da novela brasileira com uma trama tipicamente urbana. Na história, no texto. O folhetim passou a ser "contemporâneo". E no elenco havia uma constelação: Sônia Braga, Antônio Fagundes, Joana Fomm, Reginaldo Faria, Mario Lago, Beatriz Segall, Ary Fontoura... mudava a cena, mas... sempre tinha estrela em cena! Além desse time estrelado, havia as revelações: Lídia Brondi, Lauro Corona, Glória Pires... Todos sob a direção de Daniel Fiho.
Como esquecer de Sônia Braga "saracoteado" ao som da música disco na boate que levava o nome da novela? O roteiro girava em torno da rivalidade de duas irmãs : a ex-presidiária Júlia Matos (Sônia) e a socialite Yolanda Pratini (Joana).
Já "VT" foi...é....e, infelizmente, sempre será (ou pelo menos será por um bom tempo...) a "cara" do Brasil. Corrupção, falta de ética, inversão de valores, malandragem. Tá tudo lá. E com grande elenco: Regina Duarte, Glória Pires, Antônio Fagundes, Beatriz Segall, Renata Sorrah, Carlos Alberto Riccelli, Lídia Brondi, Cássio Gabus Mendes, Reginaldo Faria, Nathália Timberg, Lília Cabral....
Notou? Muitos atores da outra novela se repetem nessa. É que era uma época em que o autor da novela poderia se dar ao luxo de "reservar" elenco para os papéis principais. Muitos personagens eram criados já pensando em quem iria interpretá-los.
"Vale Tudo" tem uma ligação com o Paraná: Maria de Fátima (vivida de forma ótima por Gloria Pires) é uma moça pilantra que vende a casa onde morava com a mãe, Raquel (Regina Duarte) e o pai, Salvador (Sebastião Vasconcelos), em Foz do Iguaçu, e se manda para o Rio de Janeiro atrás de fama (quer ser modelo) e fortuna (quem sabe casar com um homem rico...).
Um detalhe logo no começo da novela: Salvador ( avô de Maria de Fátima) é funcionário da Receita Federal e poderia ser rico se fosse corrupto. Mas ele era um cidadão íntegro. Morreu no primeiro capítulo. A filha Raquel herdou dele os valores de honestidade. Já Maria de Fátima era "da pá virada"...
Assim como na vida real, "Vale Tudo" tinha bandidos em todos os "patamares". Dos mais simples aos mais sofisticados. Odete Roitman (Beatriz Segall), por exemplo, foi a grande vilã. O Brasil inteiro perguntou na época - e isso virou um bordão - "Quem matou Odete Roitman?".
A cena de Marco Aurélio fugindo de avião e "dando uma banana" para o país é, também, "a cara do Brasil". De um Brasil que não muda.
Em 2018, ao ser entrevistado pela jornalista Cristina Padiglione, Gilberto Braga afirmou:
"O Brasil não mudou em 30 anos. Por isso a novela continua atual".
Sônia Braga em seus "dias dançantes"
